Arcabouço fiscal deve ter vida longa, defende Haddad
- 21/10/2024
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse, nesta
quarta-feira (16), que o governo quer garantir que o arcabouço fiscal tenha
“vida longa”. Após reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e
dirigentes da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), no Palácio do
Planalto, Haddad comentou sobre o conjunto de medidas de corte de gastos que
deve ser apresentado pela equipe econômica para alcançar as metas de resultado
primário.
“Quando [a economia] cresce você tem espaço para que a
despesa cresça um pouco menos, mas também acompanhe o desenvolvimento do país,
mas num padrão e ritmo coerente com a nossa realidade atual. É essa equação que
nós queremos fechar até o final do ano”, explicou, lembrando que há preocupação
com a dinâmica futura do arcabouço fiscal, que é o conjunto de regras que
determina a gestão das contas públicas do país, da dinâmica entre receitas e
despesas.
“O arcabouço tem que ter vida longa, ele não pode ser algo como
aconteceu com o teto de gastos. Todo mundo que olhava para o teto de gastos
sabia que ele teria vida curta”, disse.
O ministro informou que o governo vai dialogar com os
líderes parlamentares na retomada do Congresso após as eleições municipais. “O
arcabouço fiscal foi desenhado a muitas mãos, com grande participação no
Congresso, então temos condição de olhar para frente e fazer as partes caberem
no todo dinamicamente, fazer a evolução da despesa respeitar os
constrangimentos pelos quais a economia brasileira passa hoje, em função da
herança recebida, do nível de endividamento e tudo mais”.
Segundo Haddad, a Febraban apontou vários caminhos para a
sustentabilidade fiscal, desde o equilíbrio da Previdência e “os efeitos de ter
ou não perícia sobre a concessão de benefícios”.
No encontro, a entidade bancária fez um balanço da reforma
trabalhista e do diálogo que mantêm com os sindicatos para “aperfeiçoar o
padrão de relacionamento com os trabalhadores, evitando a judicialização
desnecessária que implica em custos que vão acabar batendo no custo de
crédito”.
Juros altos
A reunião com o presidente Lula ocorreu a pedido da Febraban
para que a instituição pudesse apresentar sua visão sobre a conjuntura
econômica e outros temas. Além de Haddad, estavam presentes o ministro da
Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha; o
presidente-executivo da Febraban, Isaac Sidney, e os presidentes dos maiores
bancos privados do país - Itaú, Bradesco, Santander e BTG.
Durante o encontro, Lula deu aval para o debate sobre as
causas que fazem com que os juros bancários sejam tão elevados no país. A
pedido da Febraban, ainda em outubro, deve ser instalado um grupo de trabalho
no Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (CDESS), o
Conselhão, que reúne representantes de diversos segmentos da sociedade.
“Percebemos que é um firme compromisso do governo em avançar
na busca efetiva do equilíbrio fiscal, para que as despesas possam, não só
caber dentro do orçamento, mas para que possa se equilibrar, para que nós
possamos ter uma trajetória de equilíbrio das despesas. Essa é uma agenda
importante. Nós dissemos ao presidente que é fundamental dissipar os ruídos, as
incertezas”, disse o presidente-executivo da Febraban, Isaac Sidney.
“O Brasil atravessa um momento de conjuntura econômica
bastante positiva, bastante favorável, com a atividade econômica crescendo no
patamar elevado, com surpresas de crescimento, com a inflação sobre controle.
Mas nós acreditamos que esse é o momento de aproveitar essa janela que o Brasil
está crescendo, com a inflação controlada, para que a gente possa, do ponto de
vista estrutural, atacar alguns problemas importantes”, acrescentou o
executivo.
Segundo ele, o desejo do setor bancário é ter juros da
economia baixos para democratizar o acesso ao crédito no país. “Aos bancos não
interessam termos taxas de juros elevadas. Quanto mais altos forem os juros
bancários, maior o risco de crédito, maior a inadimplência. O que nós queremos
é um ambiente de crédito sadio que possa permitir condições mais favoráveis de
concessão de crédito para as famílias, para as empresas’, disse, defendendo que
o Banco Central possa reiniciar, “assim que possível”, o ciclo de queda da taxa
de juros no país.
Selic
Para controlar a inflação, o Banco Central usa como
principal instrumento a taxa básica de juros, a Selic, definida em 10,75% ao
ano pelo Comitê de Política Monetária (Copom). A alta recente do dólar e as
incertezas em torno da inflação fizeram o colegiado elevar os juros. pela
primeira vez em mais de dois anos, na última reunião, em setembro.
A última alta dos juros havia ocorrido em agosto de 2022,
quando a taxa subiu de 13,25% para 13,75% ao ano. Após passar um ano nesse
nível, a taxa teve seis cortes de 0,5 ponto e um corte de 0,25 ponto, entre
agosto do ano passado e maio deste ano. Nas reuniões de junho e julho, o Copom
decidiu manter a taxa em 10,5% ao ano.
A próxima reunião do Copom está marcada para 5 e 6 de
novembro, quando os analistas esperam um novo aumento da taxa básica. Para o
mercado financeiro, a Selic deve encerrar 2024 em 11,75% ao ano.
EBC | Foto: PAULO PINTO/AGÊNCIA BRASIL
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